A ferradura
Na Grécia antiga do século IV, a ferradura já
era considerada como um poderoso amuleto. Em primeiro lugar, porque era um objeto
feito de ferro, um metal que tinha o poder de proteger contra o mal. Além
disso, a sua forma, lembrando a Lua crescente, era símbolo de prosperidade e
fertilidade. Também na cultura romana a ferradura foi adotada como talismã,
pois, os romanos acreditavam nos seus poderes mágicos. Essa crença foi mais
tarde passada aos cristãos. Diz a lenda que um ferreiro inglês, chamado Dunstan
(de Canterbury) conseguiu colocar ferraduras no próprio diabo, e que só as
retirou depois de ouvir da boca do demónio a promessa de nunca mais se
aproximar desse objeto. A tradição manda colocar a ferradura atrás da porta,
com as pontas viradas para cima, caso contrário a sorte, em vez de ser atraída,
irá afastar-se cada vez mais.
Este é um amuleto exclusivamente ligado à
sorte. Diz-se que espanta maus espíritos, elimina feitiçarias, evita a morte
violenta, e até já chegou a ser usada como remédio para as mais diversas
doenças.
Em Marrocos, por exemplo, um homem que sofresse
de impotência sexual devia beber durante sete dias consecutivos água na qual
fosse banhada uma ferradura. Ainda hoje, nesse país, o mito passa por vezes à
realidade.
Mas a origem mais provável da crença na
ferradura como objeto de sorte encontra-se descrita na “Lenda da Ferradura”, da
autoria de Goethe, escritor alemão do século XVIII. Esta lenda constitui uma
das mais belas jóias do tesouro poético goethiano.
“Quando ainda obscuro e desconhecido, Nosso
Senhor andava na Terra e muitos discípulos o seguiam. Certa vez em que, em paz
e santidade, com os seus chegava a uma cidade, viu qualquer coisa a luzir na
estrada: era uma ferradura quebrada! Disse a S. Pedro ‘Pedro, apanha essa
ferradura’. Porém, S. Pedro no momento tinha o pensamento ocupado. Absorto em
êxtase sonhava-se o dominador do mundo: rei, Papa, ou tal qual se pareça, esse
sonho enchia-lhe a cabeça. E havia de dobrar a espinha para apanhar aquela
coisa mesquinha?... Se fosse um cetro ou uma coroa, e não uma ferradura à toa…
E foi seguindo distraído, como se não tivesse ouvido. Curvou-se Cristo com
doçura celeste, angélica e humilde, e ergueu do chão a ferradura. Quando
entraram na cidade, vendeu-a em casa de um ferreiro. Comprou cerejas com o
dinheiro, guardando-as à sua maneira na manga, à falta de algibeira. Ardia,
torrava o sol do meio-dia. Quanto não valia um simples gole de água pura!...
Nosso Senhor caminha à frente, e deixou cair furtivamente uma cereja, que Pedro
apanhou, salvo seja, com cabriolas de maluco. Outra cereja no caminho, atira o
Mestre de mansinho, que Pedro apanha vorazmente. E assim por diante… Disse o
senhor: ‘Pedro, se fosses mais ligeiro, não tinha tido este cansaço. Que cedo e
a tempo não se obriga, tarde, por muito menos, se afadiga…’”
Esta lenda veio prestigiar a ferradura como
símbolo de sorte. Quando encontrada casualmente, serve como amuleto para atrair
felicidade, saúde, fartura e bons negócios. Se for comprada, não terá esse
poder mágico.
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