18 julho 2012

Ferradura


A ferradura

Na Grécia antiga do século IV, a ferradura já era considerada como um poderoso amuleto. Em primeiro lugar, porque era um objeto feito de ferro, um metal que tinha o poder de proteger contra o mal. Além disso, a sua forma, lembrando a Lua crescente, era símbolo de prosperidade e fertilidade. Também na cultura romana a ferradura foi adotada como talismã, pois, os romanos acreditavam nos seus poderes mágicos. Essa crença foi mais tarde passada aos cristãos. Diz a lenda que um ferreiro inglês, chamado Dunstan (de Canterbury) conseguiu colocar ferraduras no próprio diabo, e que só as retirou depois de ouvir da boca do demónio a promessa de nunca mais se aproximar desse objeto. A tradição manda colocar a ferradura atrás da porta, com as pontas viradas para cima, caso contrário a sorte, em vez de ser atraída, irá afastar-se cada vez mais.
Este é um amuleto exclusivamente ligado à sorte. Diz-se que espanta maus espíritos, elimina feitiçarias, evita a morte violenta, e até já chegou a ser usada como remédio para as mais diversas doenças.
Em Marrocos, por exemplo, um homem que sofresse de impotência sexual devia beber durante sete dias consecutivos água na qual fosse banhada uma ferradura. Ainda hoje, nesse país, o mito passa por vezes à realidade.
Mas a origem mais provável da crença na ferradura como objeto de sorte encontra-se descrita na “Lenda da Ferradura”, da autoria de Goethe, escritor alemão do século XVIII. Esta lenda constitui uma das mais belas jóias do tesouro poético goethiano.
“Quando ainda obscuro e desconhecido, Nosso Senhor andava na Terra e muitos discípulos o seguiam. Certa vez em que, em paz e santidade, com os seus chegava a uma cidade, viu qualquer coisa a luzir na estrada: era uma ferradura quebrada! Disse a S. Pedro ‘Pedro, apanha essa ferradura’. Porém, S. Pedro no momento tinha o pensamento ocupado. Absorto em êxtase sonhava-se o dominador do mundo: rei, Papa, ou tal qual se pareça, esse sonho enchia-lhe a cabeça. E havia de dobrar a espinha para apanhar aquela coisa mesquinha?... Se fosse um cetro ou uma coroa, e não uma ferradura à toa… E foi seguindo distraído, como se não tivesse ouvido. Curvou-se Cristo com doçura celeste, angélica e humilde, e ergueu do chão a ferradura. Quando entraram na cidade, vendeu-a em casa de um ferreiro. Comprou cerejas com o dinheiro, guardando-as à sua maneira na manga, à falta de algibeira. Ardia, torrava o sol do meio-dia. Quanto não valia um simples gole de água pura!... Nosso Senhor caminha à frente, e deixou cair furtivamente uma cereja, que Pedro apanhou, salvo seja, com cabriolas de maluco. Outra cereja no caminho, atira o Mestre de mansinho, que Pedro apanha vorazmente. E assim por diante… Disse o senhor: ‘Pedro, se fosses mais ligeiro, não tinha tido este cansaço. Que cedo e a tempo não se obriga, tarde, por muito menos, se afadiga…’”
Esta lenda veio prestigiar a ferradura como símbolo de sorte. Quando encontrada casualmente, serve como amuleto para atrair felicidade, saúde, fartura e bons negócios. Se for comprada, não terá esse poder mágico.

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