Em 1718, Sir Edmund Halley (1656-1742) observou que a posição da estrela Arcturus no céu havia mudado um grau em relação à posição medida por Ptolomeu. Sírius também havia mudado, de meio grau. Desde então os astrônomos têm medido o movimento transverso, isto é, o movimento aparente das estrelas no céu, perpendicular à linha de visada. Este movimento é chamado de movimento próprio e usualmente é medido em segundos de arco por ano.
A estrela de Barnard, descoberta em 1916 por Edward Emerson Barnard (1857-1923) a 1,8 pc de distância, com um centésimo da luminosidade intrínseca do Sol, é a estrela com maior movimento próprio conhecida, 10 segundos de arco por ano. A foto da esquerda é de 1950 e a da direita de 1997. A imagem em movimento foi produzida por Steve Quirk.
Movimento próprio (traço contínuo) e paralaxe (oscilação em torno da reta) da estrela de Barnard (Astronomia de Posição, de Gastão Bierrenbach Lima Neto, do IAG/USP).
Combinando estes dois movimentos (radial e transversal), podemos medir a verdadeira velocidade da estrela em relação ao Sol.
Jan Heindrik Oort (1900-1992) demonstrou que os movimentos podem ser interpretados em termos do movimento geral das estrelas em torno da galáxia, de acordo com as leis de movimento de Kepler. As estrelas mais próximas do centro da galáxia se movem mais rápido do que o Sol. Oort deduziu que o Sol revolve em torno do centro da nossa galáxia com uma velocidade de 220 km/s, completando uma volta a cada 233 milhões de anos.
Componentes dos movimentos estelares
As velocidades das estrelas em relação ao Sol podem ser decompostas em duas componentes, uma na direção da linha de visada, e a outra no plano do céu.
- velocidade radial [vr (km/s)]:
é a sua velocidade de aproximação, ou afastamento, na direção da linha de visada. É obtida a partir do deslocamento Doppler das linhas espectrais.
- movimento próprio [μ ([″/ano])]:
é o movimento próprio da estrela no plano da esfera celeste, ou seja, perpendicular à linha de visada,
Se em um certo tempo Δt, a estrela tem um deslocamento angular no céu Δθ, então o movimento próprio da estrela é μ = Δθ/Δt [″/ano].
Não se deve confundir o movimento próprio com a paralaxe, pois a paralaxe se deve ao movimento da Terra em torno do Sol, e é cíclica em um ano, ao passo que o movimento próprio se deve aos movimentos relativos entre a estrela e o Sol, e é cumulativo ao longo de anos. Ao se calcular o movimento próprio, deve-se fazer a correção pela paralaxe;
- velocidade tangencial [vt (km/s)]:
é a componente da velocidade V perpendicular à linha de visada, e é obtido a partir do movimento próprio e da distância da estrela, que por sua vez é obtida a partir da paralaxe.
Como d (pc) = [1/(p″)], temos:
onde se usou sen(μ)=μ, porque μ é muito pequeno (em geral menor do que 5×10-5rad/ano).vt = μ (rad/ano)
p"pc/ano Lembrando que:
μ(rad/ano) = μ(″/ano)
206265(″/rad); 1 parsec = 206265 UA ; 1 UA/ano = 4,74 km/s Temos:
vt = 4,74 μ (&Prime/ano)
p(″)km/s; - velocidade espacial [V (km/s)]:
é obtida a partir de vt e vr:
V2 = vt2 + vr2 25 km/s, em média.
Sistema de coordenadas galácticas
O sistema de coordenadas galácticas tem por plano fundamental o plano galáctico, que é o círculo máximo que contém o centro galáctico e as partes mais densas da Via Láctea. É inclinado 63° em relação ao Equador celeste.
As coordenadas do sistema galáctico são:
- latitude galáctica (b): distância angular medida perperdicularmente ao plano galáctico, variando de 0° a 90° para o norte e de 0° a 90° para o sul.
- longitude galáctica (l): distância angular medida ao longo do plano galáctico, variando de 0° a 360° para o leste (sentido contrário ao do movimento diurno da esfera celeste), a partir da direção do centro galáctico, que fica em Sagitário.
- no sistema galáctico: l = 0, b = 0;
- no sistema equatorial celeste: AR=17h 42min, DEC=-28° 55'.
Distâncias dentro da Galáxia
As distâncias dos objetos astronômicos podem ser determinadas usando técnicas como radar, no caso de planetas internos e outros objetos próximos da Terra, paralaxe heliocêntrica, usada para detectar distâncias dos planetas externos do nosso sistema solar e de estrelas próximas, e a paralaxe espectroscópica1, que utiliza as propriedades espectrais das estrelas para determinar sua magnitude absoluta pela sua posição no diagrama HR. Através da paralaxe espectroscópica, podemos medir distâncias de estrelas até aproximadamente 10 000 pc, alcance maior do que o obtido através da paralaxe heliocêntrica (1000 pc), mas ainda insuficiente para cobrir o tamanho de nossa Galáxia, que tem 25 000 pc de diâmetro. É necessário, portanto, incluir um novo método de determinação de distâncias, que tenha um alcance maior. As estrelas variáveis cumprem o papel de indicadores de distância nesta escala.
A relação Período-Luminosidade de estrelas variáveis pulsantes
As estrelas variáveis pulsantes radiais são estrelas cuja luminosidade varia com o tempo, devido a variações no seu tamanho. Elas podem ser reconhecidas facilmente, observando a sua variação em luminosidade, que se dá de maneira muito regular.
- RR Lyrae: são estrelas evoluídas que estão começando a queimar o hélio no núcleo, muito comuns em aglomerados globulares. Seus períodos de pulsação são pequenos, entre 0,5 e 1 dia, com variações em magnitude menores do que 1 magnitude. Todas têm tipo espectral entre B8 e F2, e magnitude absoluta em torno de MV = 0,6 ±0,3. O fato de terem luminosidade conhecida permite que sejam usadas como indicadores de distância para aglomerados globulares, usando-se o módulo de distância.
Seqüência de imagens de uma estrela RR Lyra no cúmulo globular M4, durante 12 horas. No canto superior direito aparece o tempo, em dias, de cada imagem. Na primeira imagem aparece a magnitude aparente de algumas estrelas e a RR Lyra em um círculo.
Seqüência de imagens do cúmulo globular M3 durante um dia, mostrando a variabilidade das estrelas RR Lyrae.
©Joel Hartman (Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics) & Krzysztof Z. Stanek (Ohio State University) - Cefeidas: são supergigantes com tipo espectral entre F e K. Também pulsam de forma regular, mas podem apresentar períodos de pulsação entre 1 e 100 dias, com amplitudes de pulsação entre 0,3 e 3,5 magnitudes.
Estrela Cefeida na galáxia M100, a 56 milhões de anos-luz, no aglomerado de Virgem. A estrela variável dobra de brilho, passando de magnitude 24,5 para 25,3 em 51,3 dias, fotografada pelo Telescópio Espacial Hubble em 1994.
Gráfico da variação de brilho da estrela Delta Cephei, a protótipo da classe das Cefeidas, com o tempo. O período é de 5,366 dias. A estrela fica no bícepes de guerreiro da constelação de Cepheus, mas com latitude de +58°, não é visível do hemisfério sul.
Durante uma pulsação, a Cefeida quando está com o raio menor e temperatura maior, ioniza o hidrogênio, aumentando o número de partículas e, portanto, aumentando a pressão. O aumento de pressão aumenta o raio, diminuindo a temperatura, recombinando o hidrogênio. Pela redução do número de partículas, a pressão diminui e a estrela se contrai, aumentando a temperatura e recomeçando o ciclo.
John Goodricke, que descobriu a variabilidade de Delta Cephei em 1784, e Henrietta Swan Leavitt, que determinou a relação período-luminosidade das Cefeidas em 1912.As variáveis Cefeidas são usadas para determinar distâncias de estrelas longínqüas da nossa Galáxia, e distâncias de outras galáxias.MbolCefeidas = -3,125 log P - 1,525
Distância de alcance | Método |
---|---|
1 UA | radar |
1000 pc | paralaxe heliocêntrica |
10 000 pc | paralaxe espectroscópica |
4 Mpc | estrelas variáveis |
O sistema local de repouso (SLR)
É o sistema de referência instantaneamente centrado no Sol, que se move em órbita circular em torno do centro galático, com velocidade igual à média das velocidades estelares nas vizinhanças do Sol, de maneira que as estrelas, nas proximidades do Sol, em média, estão em repouso em relação ao SLR. Como os movimentos das estrelas individuais são diferentes do movimento médio, as estrelas, consideradas individualmente, apresentam movimentos em relação ao SLR, que são detectados como movimentos peculiares.
O movimento do Sol em relação ao SLR é de 19,7 km/s, numa direção chamada ápex, que fica na constelação de Hércules e tem coordenadas:
Notas:
1A paralaxe espectroscópica, usando o módulo de distância, não tem nada a ver com o método da paralaxe geocêntrica ou heliocêntrica, que são paralaxes trigonométricas, a não ser o fato de que é utilizado para determinar distâncias. O nome continua sendo usado por razões históricas.
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